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PLÁSTICO

Apesar de amigo, hoje ele traz mais problemas que soluções

Ele ainda vai te matar

Ele ainda vai te matar

cansou da

 ventania?

Muitas coisas invisíveis são bastante reais. Podemos sentir o vento no rosto, o amor na alma e a febre no corpo quando temos uma infecção. Mas o que poucos sabem é que esta afirmação também é válida sobre o plástico. Mesmo sem ver, ingerimos microplásticos na água e nos alimentos. 

Alexander Turra, oceanógrafo da USP, tem uma informação alarmante: os microplásticos têm entre 1 e 5 mm e estão espalhadas pelo ar e pela água. A organização jornalística sem fins lucrativos, Orb Media, dos Estados Unidos, que  produz conteúdo investigativo, em parceria com universidades norte-americanas, realizou uma série de estudos que mapeou a quantidade de partículas plásticas presentes tanto em água engarrafada de diversas marcas, quanto em amostras retiradas de torneiras dos cinco continentes. Eles descobriram que este elemento essencial para a vida humana está contaminado por toneladas de microplásticos . Em todo o mundo, as pessoas bebem plástico.

As fontes dessa contaminação são várias: fibras sintéticas que se desprendem das roupas no momento da lavagem, tintas destinadas a vários usos, garrafas PET, copos e talheres descartados de maneira incorreta, microesferas encontradas em produtos de beleza. Todo esse material se fragmenta em partículas microscópicas e vai parar na água.

O plástico invisível afeta também a vida de criaturas microscópicas que vivem nos oceanos, na terra e no ar, como, por exemplo, o plâncton e o krill. Eles também ingerem as partículas e, como são parte fundamental da cadeia alimentar marinha, a contaminação atinge todo o ecossistema.

Nós também não estamos livres das consequências da invasão plástica. Aqueles que estão mais presentes no nosso dia-a-dia, como o PET, presente nas garrafas de sucos e refrigerantes, e o PVC, encontrado nos encanamentos, liberam substâncias nocivas, em menor ou maior escala. O PET, quando exposto a altas temperaturas, libera um composto tóxico chamado antimônio, que pode provocar dores de cabeça e náuseas. O PVC, em mero contato com a água, dilui substâncias tóxicas que podem agir como desreguladores endócrinos, capazes de interferir na produção de hormônios. Segundo o estudo publicado pela Orb Media, o composto está associado ao desenvolvimento impróprios de órgãos reprodutivos dos fetos.

Alterar essa realidade não é simples, nem rápido. Existem muitas questões que estão além do nosso poder individual, mas algo deve ser feito para começar, e se existe um momento para isso, a hora é agora. E é urgente.

Texto: Nila Maria e Vinícius Pazini

Fotos: Pedro Zuccolotto e Juliane Assis

Por: Pedro Zuccolotto e Juliane Assis | Modelo: Maju Toffuli

179 anos de polímero

179 anos de polímero

Ele existe na natureza desde que o homem das cavernas aprendeu a usar ferramentas. Plástico, derivado do grego plastikos, significa flexível, e define todo material capaz de ser modelado com calor ou pressão para criar outros objetos. Dessa forma, a resina de certas árvores e até mesmo o marfim retirado da presa de elefantes, moldado desde o século XVII, são considerados plásticos naturais. Já o polímero artificial tem uma história mais recente,  envolvida com o mundo moderno.

2018

Depois de 1950, não se mudou muita coisa. O plástico foi se desenvolvendo e, com suas diversas vantagens, foi se inserindo gradualmente em quase todos os setores da sociedade.

 

Por: Pedro Zuccolotto

1946

A empresa dinamarquesa LEGO compra sua primeira máquina de produção de brinquedos plásticos.

Anos mais tarde, a empresa começa a vender os pacotes com

blocos de montar.

Antes, as peças eram de madeira

e feitas a mão

Caixa de Lego
Manufatura de Lego
Brinquedo Lego de madera
Propaganda poliéster

O polietileno tereftalato, conhecido como poliéster ou PET, é descoberto pelos químicos britânicos John Rex Whinfield e James Tennant Dickson.

Começou a ser empregado na indústria têxtil, mas a partir dos anos 1970 passou a ser utilizado na confecção de garrafas e embalagens

Propaganda poliéster

1941

1940

Roy J. Plunkett apresenta o Teflon™ para uso comercial na década de 1940. Este polímero se destacou por ser escorregadio e não deixar nada grudar. Virou um sucesso na cozinha e no guarda-roupas, sendo usado em panelas anti-aderentes e em roupas à prova d’água

O nome é marca registrada da empresa francesa DuPont, mas se tornou mais popular que o nome técnico do produto

Propaganda Teflon

1939

Com a Segunda Guerra Mundial (1939-1945), o náilon passa a ser empregado na fabricação de

paraquedas, tendas e macas.

O material é utilizado na medicina para fazer fios de sutura cirúrgica  e no cotidiano, nas cerdas das escovas de dentes

Paraquedistas na Segunda Guerra Mundial

O americano Wallace Hume Carothers sintetiza o náilon, primeira fibra têxtil sintética. A partir dele foi possível a fabricação do velcro. O náilon se popularizou nas pernas das mulheres, substituindo as caras meias de seda

Propaganda de meias de nylon

1935

O acrílico passa ser utilizado na indústria aeronáutica na confecção das janelas em aviões comerciais e militares

1933

O acrílico é desenvolvido em diversos laboratórios. Por ter maior resistência, maleabilidade e transparência, passou a substituir o vidro nos mais diversos setores comerciais. Sua versão aquosa é utilizada na tinta acrílica até hoje

O policloreto de vinila (PVC) começa a ser usado comercialmente nos EUA na confecção de lacres e embalagens. Também foi muito utilizado a partir da década de 1940 para fabricar discos de vinil.

O PVC gera resíduos resistentes à degradação natural e podem causar câncer e lesões no cérebro

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1930

Graças aos discos de vinil, a música pôde ser compartilhada em escala mundial, mudando para sempre a concepção e a dinâmica da indústria fonográfica

1907

O químico belga

Leo Baekeland cria o Bakelite, primeiro plástico totalmente artificial. O segredo para sua criação foi a polimerização.

Rádios e telefones eram alguns aparelhos feitos com esse material

Reação química que junta várias moléculas para formar

um novo material

Propaganda Bakelite
Leo Baekeland

1870

O americano John Wesley Hyatt produz celuloide a partir da celulose das plantas.

O novo material era usado para substituir o marfim das bolas de bilhar e também na fabricação

de filmes e películas fotográficas

Propaganda de filme fotográfico da Kodak
John Wesley Hyatt

1839

O americano Charles Goodyear desenvolve o processo da vulcanização da borracha. Esse método passa a ser usado em escala industrial na fabricação de pneus e equipamentos industriais

Processo de adição de enxofre à borracha crua, formando pontes de enxofre entre as cadeias do polímero que melhoram suas propriedades

Propaganda God Year
Charles Goodyear

1950

Encontro da Tupperware

Frederic Stanley Kipping foi o pioneiro nos estudos do silicone. No começo, era o campeão na cozinha, com luvas, espátulas e talheres feitos do material maleável. Também surge na época a mundialmente famosa marca de produtos de plástico Tupperware

1980

Na década de 1980, o plástico toma as casas brasileiras com a chegada da Coca-Cola em garrafa PET.

Com o tempo, o material passou a ser usado amplamente em embalagens de bebidas no Brasil

Comercial Big Coke

Foto: Pedro Zuccolotto

Companheiro fiel

Companheiro fiel

Você acorda de manhã, vai ao banheiro, toma banho e escova os dentes. Depois, bebe café e come um pão com manteiga na chapa. Para ir ao trabalho, pega um ônibus e vai o caminho inteiro de fone, ouvindo música pelo celular. Na hora do almoço, o pedido é o prato do dia e um refrigerante de 600 ml para dividir com o colega. No final do expediente, é hora de um happy hour com os amigos num barzinho bacana para relaxar.

Essa é uma rotina comum da maioria das pessoas em centros urbanos. Mas você já parou para pensar que o plástico nos acompanha na maioria desses momentos? Quase tudo leva o polímero: do frasco do xampu até a escova de dentes; a embalagem da margarina, o fone de ouvido, o celular, as barras de apoio do ônibus, o PET do refri, o canudo do drinque no bar.

Hoje, é praticamente impossível se livrar do plástico. A coordenadora do curso de engenharia de materiais da FEI, Adriana Catelli, aponta que as propriedades químicas dos polímeros contribuíram para sua disseminação em diferentes setores. “A facilidade de ser moldado, a resistência à umidade e a durabilidade são os fatores que tornaram o plástico um dos materiais mais populares dos últimos séculos”.

Desafio das compras

Dentro dos supermercados, em praticamente todos os corredores, há plástico. Principalmente nas embalagens que protegem os alimentos e materiais de limpeza. Encontrar produtos industrializados sem polímeros nas embalagens é uma tarefa árdua.

A engenheira Adriana comenta que um dos problemas das embalagens é a forma com que elas são produzidas. “Se fosse utilizado o mesmo polímero ou um biodegradável, já facilitaria a reciclagem do material”, afirma.

Por isso tudo, desafiamos você a fazer a compra do mês e escolher produtos livres de plástico nas embalagens. Nossa equipe tentou.

Por: Danielly Fernandes

O plástic nos setore

Onde ele está

Nas fraldas, nos carros, nos brinquedos e até mesmo no seu gel de limpeza facial. O plástico encontra um jeito de estar em todos os lugares. Ouça nas reportagens abaixo a presença dele em diversos setores.

Hospital

Plástico hospitalar - Igor Neves
00:00 / 00:00

Cosméticos

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Plásticos nos cosméticos - Danielly Fernandes
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Infância

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Plástico na infância - Nila Maria
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Educação

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Plástico na educação - Vinícius Pazini
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Transporte

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Plástico nos transportes - Juliane Assis
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Uso único

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Plástico de uso único - Pedro Zuccolotto
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Foto: Peter Stackpole—The LIFE Picture Collection/Getty Images

Tem plástico em...?

Teste seus conhecimentos e veja se você sabe onde o plástico está escondido.

Por: Danielly Fernandes e Igor Neves

Tem plástico em...?

Foto: Pedro Zuccolotto

O plástico que emprega

O plástico que emprega

O mesmo plástico que causa preocupação e até aversão com seus efeitos devastadores na natureza é o mesmo material responsável por colocar o pão de cada dia na mesa de milhares de pessoas no Brasil.

De acordo com a Associação Brasileira da Indústria do Plástico (Abiplast), em um relatório divulgado em abril deste ano, somente no primeiro bimestre de 2018 foram abertos 1391 novos postos de trabalho no setor de transformados plásticos. Esse número alçou esta área da indústria no topo da empregabilidade, oferecendo em toda a cadeia cerca de 314 mil empregos.

 

Além da criação de oportunidades de trabalho na indústria que produz materiais plásticos, a reciclagem tem papel fundamental e transformador na economia e na geração de emprego. De acordo com o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), em 2016, o número de pessoas trabalhando como coletores de materiais recicláveis no Brasil era de 387 mil. Apesar de ser um número alto, a pesquisa aponta que hoje em dia a maior parte do lixo reciclado no país é coletado por empresas particulares que mantêm cooperativas de reciclagem, igualmente atuantes na geração de emprego.

A Organização Internacional do Trabalho (OIT) divulgou, em maio deste ano, um relatório que prevê a criação de 24 milhões de postos de novos trabalhos em todo o mundo, caso as políticas para uma economia sustentável sejam aplicadas. Deste total de empregos, seis milhões serão criados a partir da transição para uma economia circular, o que inclui a reciclagem.

Texto: Nila Maria e Vinícius Pazini

Gráfico: Juliane Assis

 

Foto: Nila Maria

Coco, inox e silicone

Coco, inox e silicone

De fala simples e sorriso fácil, José Costa dos Santos, o “Zé do Coco”, de 55 anos, nos recebeu em uma manhã ensolarada em uma das mesas de concreto em frente ao seu quiosque de coco, no canal 6, em Santos, litoral paulista. O quiosque já estava aberto e pessoas conversavam animadamente sob o sol inesperado de sábado de manhã. Zé chegou girando a chave de casa na mão, vestindo o uniforme do quiosque, com um “Zé do Coco” escrito em letras verdes nas costas. Antes de nos encontrar, estava recebendo mercadoria no galpão onde armazena os cocos que vende.

 

Nascido em Pinhão, no interior do Sergipe, o quinto de 14 filhos saiu de casa em 1982, com 18 anos, e resolveu tentar a vida na praia. Ele veio para São Paulo sozinho. O primeiro emprego foi em uma lanchonete e, ao perceber que não conseguia ajudar a família, resolveu criar o próprio negócio.

ouça o

Zé do Coco

 

No início com um carrinho, e depois com o quiosque, Zé criou o ponto mais famoso de venda de coco em Santos. Com seu trabalho, ele conseguiu formar as duas filhas, Renata, em Direito, e Jaqueline, em Administração de Empresas, e ter uma vida confortável para ele, os pais e os irmãos, além de gerar emprego para dez pessoas. A simpatia e “a ‘lição do R’: o respeito”, como ele mesmo fala, trouxe clientes fiéis. Numa conversa de mais ou menos meia hora, cerca de dez pessoas cumprimentaram o Zé. “No começo era difícil, eu não sabia como conquistar uma pessoa. Hoje não, a relação com os clientes é muito boa. Parece ser uma família.”

 

Zé tem pensamento de empreendedor. Conseguiu fazer o negócio crescer e, sempre que podia, guardava dinheiro “para investir”. Hoje tem uma câmara frigorífica para deixar o coco mais gelado e compra os cocos direto do produtor, com um custo menor, para vendê-los por um valor mais baixo. Quando fala sobre o trabalho, Zé tem a voz carregada de orgulho. E palpável a felicidade que sente ao perceber que conseguiu concluir seu objetivo de ajudar os pais trabalhando na cidade grande.

 

Para ele, quando um negócio dá certo a família tem que participar. As duas filhas trabalham no quiosque e continuam o empreendimento que o pai construiu. A filha mais nova, Jaqueline, é responsável pelas redes sociais e foi ela que fez o anúncio que nos fez chegar até o Zé. Agora, Zé fica de olho, supervisionando o trabalho dos funcionários e sentindo as dores de cabeça da administração do negócio.

 

A ideia dos canudos reutilizáveis, e que nos levou até ele, surgiu da cobrança do público mais jovem que frequenta o quiosque. Numa manhã de domingo, Zé do Coco estava assistindo televisão e viu uma reportagem que falava sobre os canudos reutilizáveis de inox. Pediu a uma das filhas para procurar na internet onde comprava e montou 200 kits. Anunciou a novidade na página do Facebook e pronto, sucesso: “Achei que não ia vender o canudo a vinte reais, mas não deu para nada”, ele recorda. O instrumento atraiu a mídia para o quiosque e a visibilidade só foi aumentando. “Toda a hora vem gente de fora procurar os canudos. A gente já tem o de inox e os de silicone, e vamos começar a ter os biodegradáveis para substituir o de plástico”.

Zé defende muito o uso dos canudos reutilizáveis e acredita que eles são a chave para o início de uma mudança mais concreta. “Nós queremos mudar, temos que mudar. Substituir o de plástico pelo biodegradável é trocar seis por meia dúzia. O biodegradável se decompõe em sete, oito meses. Peixe morre em cinco minutos. Os de inox, se você tomar vinte cocos, ele fica a um real. Se tomar quarenta, ele fica 50 centavos. Depois zera o custo dele e você leva para qualquer lugar. A gente não quer vender canudo, esse não é nosso intuito. A gente quer mostrar é que a gente mudou”.

Além dos canudos, o quiosque também fez uma parceria com um projeto de conclusão de curso de alunos de Engenharia Mecânica da Universidade Paulista (UNIP), que usa a fibra da casca do coco para fazer carvão vegetal. “Oitenta por cento do nosso lixo é casca de coco, e casca de coco não é lixo. A gente trabalhou junto nesse projeto, porque eu tenho interesse que mude também. Vai mudando um item, depois outro… Chega naqueles durões que não querem mudar e eles vão ficar encurralados. Eles vão ser obrigados a ceder”.  Seja diminuindo o plástico ou dando outra utilidade para a casca de coco, Zé faz sua parte para mudar, nem que seja um pouco, o futuro atolado em plástico, afinal, a praia se tornou sua casa e seu negócio. Os oceanos agradecem.

Texto: Edmara Galvão

Fotos: Nila Maria

Foto: Instituto Route Brasil

Esforço coltivo

Esforço coletivo

Um canudo aqui, outra garrafa ali. Jogar lixo na areia da praia virou algo tão comum como dar um mergulho no mar. Em um país com extensão territorial de 7.367 km, fica mais fácil ainda descartar na areia o quer era para ser jogado na lixeira. E a velha lenda de que o mar levará o lixo? Tornou-se mito, pois ele não está comportando mais as 25 milhões de toneladas de dejetos que são despejadas todos os anos nos mares.

 

Foi pensando nesse problema que um grupo de surfistas de Florianópolis criou uma iniciativa que hoje atua em projetos nacionais e internacionais. O Instituto Route Brasil foi criado em 2011 e já realizou mais de 200 ações em oito países e em seis estados no Brasil, reunindo mais de 10 mil voluntários. Luíza Bresolin, uma voluntária da ONG, comenta que se sente realizada ao participar ativamente no cuidado com a natureza e retirar cada pedacinho de plástico da areia. “É absolutamente ridículo que com tanta informação as pessoas continuem a tratar o meio ambiente como ‘coisa de ninguém’, o meio ambiente é de todos!”

 

“Um dos primeiros objetivos era chamar atenção, porque depois que nós fazemos a limpeza de praia é possível ver quanto lixo estava espalhado. As pessoas se conscientizam e se mobilizam para ajudar”, explica Liliana Alvez, gerente de projetos do Route Brasil.

O Instituto Ecofaxina, criado pelo biólogo marinho William Rodrigues em 2008, já realizou quase 100 mutirões para recolher lixo tanto nas praias quanto nos manguezais. “Nós começamos a fazer um trabalho mais focado na região das Palafitas, conhecidas como áreas habitadas dos manguezais, porque o lixo que é depositado lá depois é levado para as praias pelo mar. São cerca de 20 toneladas de lixo que todo dia vão parar no oceano”, explica.

 

William ainda concluí que “enquanto os governos não criarem políticas públicas voltadas para a preservação dos manguezais nós vamos estar enxugando gelo ao recolher lixo nas praias”.

 

Julia Carrilo é voluntária do Instituto e percebe que alguns hábitos estão mudando. “Acho que algumas pessoas tentam fazer a diferença. Aos poucos, você vai percebendo que as pessoas vão modificando seus hábitos, como por exemplo não usar canudinho. Se todo mundo fizer um pouco, o planeta agradece”, ela conta.

 

Outra ONG que também foi criada pensando no problema do lixo nas praias foi a SOS Praias, fundada em 1999 pelo professor de surf e stand-up Marcelo Marinelo depois de um acidente que ocorreu na praia de Ipanema, no Rio de Janeiro, onde foram despejadas toneladas de esgoto in natura (sem tratamento) no mar.

 

“Nas ações, o material que a gente mais recolhe é o plástico, mas no Brasil o voluntariado ainda é muito difícil. Nos quase 20 anos de existência da ONG foram feitos muitos mutirões e é legal ver como as crianças ficam mais preocupadas do que os adultos, que já são educadamente errados e muitas vezes ignoram o problema. É assim que a gente vai mudar o futuro, com as crianças”, comenta Marcelo. Segundo o Instituto Oceanográfico da USP, 95% do lixo encontrado nas praias brasileiras são itens de plástico. Desses, 80% têm origem terrestre e 20% do próprio mar devido a atividades pesqueiras.

 

Texto: Juliane Assis e Igor Neves
Fotos: Instituto Route Brasil e Instituto Ecofaxina

Foto: Divulgação/The Ocean Cleanup Foundation

Sopa de plástico

No Norte do Oceano Pacífico flutua uma mancha de cerca de 1,6 milhão de quilômetros quadrados. Nela, os mais diversos objetos como garrafas, embalagens, brinquedos, redes de pesca e mais vários outros itens de plástico. A estimativa é que existam 1,8 trilhão de detritos, equivalente a 250 para cada ser humano no planeta.

Segundo a bióloga Larissa Teixeira, a origem de todo esse é lixo é variada. “Vai desde o descarte indevido, que pode ser no meio urbano em vias públicas, descarte indevido de lixo nas praias e embarcações“, explica.

Você confere mais informações no infográfico abaixo.

Texto: Pedro Zuccolotto

Infográfico: Edmara Galvão e Agostinho Fratini

não enxerga? clique na imagem para ampliar

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Foto: Edmara Galvão

Digno e importante

Digno e importante

A vida de Adão Nunes Martins era tranquila. Acordava de manhã, tomava café e ia trabalhar. A esposa, Maria, cuidava dos filhos e da casa e, apesar das dificuldades, ele a tinha como pilar fundamental da vida dele. Tudo mudou depois que Maria morreu de um ataque cardíaco, em 1998. Adão ficou com dois filhos para criar: Alan, de 14 anos, e Amanda, de 10.

 

Quando veio de Governador Valadares, no interior de Minas Gerais para tentar a vida em São Paulo, Adão não imaginava a história que teria para contar aos 60 anos. Muito tímido, é difícil ouvi-lo falar sobre a própria vida. Fala rápido, olha para o horizonte e deixa claro aceitar os caminhos da vida como eles são.

 

Pelos imprevistos que teve Adão, que trabalhava com serviços gerais em uma empresa, largou tudo para cuidar dos dois filhos, e em especial de Alan, que tinha paralisia cerebral. A condição de especial rendeu uma aposentadoria por invalidez, mas Adão nunca usou este dinheiro para outra coisa que não fossem os remédios que ele precisava tomar, que eram muito caros. Pela necessidade, começou a trabalhar como catador de material reciclável. “No início era difícil, mas a gente se acostuma. Graças a Deus hoje eu tenho muito orgulho do que faço”.


“No início era difícil, mas a gente se acostuma. Graças a Deus hoje eu tenho muito orgulho do que faço.”

 

A rotina de trabalho é pesada. Adão começa uma e meia da manhã atrás de papelão, plástico, metal, alumínio… o que aparecer ele recolhe porque sabe que todos esses materiais são importantes e ajudam no seu ganha-pão. Às vezes, volta para casa às cinco da manhã e leva a neta para a escola. Depois, continua o dia de serviço até o horário de buscar a neta, às cinco da tarde. “Eu vou falar a verdade, prefiro trabalhar assim porque sou o meu patrão. Escolho o meu horário de trabalho”.

 

Conversei com Adão em um sábado de manhã. Ele me encontrou na lanchonete do bairro, junto com a neta, Isabela, e pediu muitas desculpas porque havia esquecido que a filha ia trabalhar e que precisava cuidar da neta. Ficou preocupado que a menina pudesse atrapalhar a conversa, e não cansava de perguntar se estava “incomodando” em alguma coisa.

 

Perguntei sobre sua casa e sua família. Moram com ele a filha, hoje com trinta anos, e os dois netos, Guilherme, de doze e a Isabelle, de quatro. A esposa se foi há vinte anos e ele não se casou de novo. O filho mais velho morreu em 2016, com 32 anos. “As pessoas não acreditam, mas eu sinto muita falta das obrigações que eu tinha com o meu filho. Eu sinto falta de dar banho, de dar comida, de cuidar dele. Eu sinto muita saudade do meu menino”. Adão segue a vida assim, recordando dos que já se foram e cuidando dos que permanecem. “A família é a coisa mais importante da vida”.

 

Ele não gosta de falar da vida pessoal. Prefere contar sobre o trabalho, do que conseguiu como catador. Fala com orgulho da máquina de lavar que comprou com o dinheiro da reciclagem e coleciona objetos usados vistos, por muitos, como lixo mas que para ele “são ouro”.

 

O rádio que tem em casa ele conseguiu no mesmo dia em que o dele quebrou. Um vizinho jogou o aparelho fora e ofereceu para Adão, para ver se ainda funcionava para alguma coisa. Está na casa dele há três anos. Com o microondas, é a mesma coisa. No dia em que o dele queimou, uma mulher deixou na rua um que ainda funcionava muito bem.

 

É difícil separar o trabalho da vida pessoal, porque ser catador é carregar um estigma e uma responsabilidade. “As pessoas nos julgam, não dão valor ao nosso trabalho. A verdade é que muita gente tem preconceito mesmo, porque a gente mexe no lixo para achar o nosso sustento. Mas eu sei que meu trabalho é digno e importante”.


"Mas eu sei que meu trabalho é digno e importante.”

 

Até mesmo a filha de Adão já teve vergonha do trabalho do pai. Uma vez, quando passava muita necessidade, sem comida em casa, Adão saiu com seu carrinho de mão procurando trabalho. Um homem encontrou-o no caminho e lhe ofereceu um portão velho de ferro, que ele estava se livrando. Adão aceitou e foi buscá-lo. Era grande e pesado. Enquanto carregava o portão, Amanda apareceu no meio do caminho. “Você acredita que ela fingiu que não me viu? Minha filha sempre foi muito nariz em pé. Ela devia ter uns quinze anos na época”, revelou.

 

Adão seguiu com o portão até a cooperativa onde vende, até hoje, o material que recolhe e conseguiu um bom dinheiro. Comprou arroz, feijão, carne, fez uma compra daquelas no mercado, “sujo da cabeça aos pés”. Chegou em casa, tomou um banho e fez o almoço. Quando a filha chegou, pediu por comida. “Ela falou que estava com fome, e daí eu falei pra ela ‘você lembra que hoje mais cedo você passou na minha frente e ficou com vergonha de mim, do meu trabalho? Pois você pode comer sim, mas você nunca se esqueça que esse trabalho coloca comida dentro de casa’. Eu sou assim, tem momentos que tem que dar bronca mesmo”. E Amanda aprendeu. Qualquer latinha que ela encontra no caminho coloca na bolsa e leva para o pai.

 

E com os imprevistos da vida, Adão vai caminhando pelo bairro com seu bonezinho. Já está próximo de se aposentar e finalmente descansar depois de anos de trabalho duro, afinal, os sessenta anos já escancaram a porta. Adão não teve uma vida fácil, mas com certeza traçou o seu caminho para perceber que o seu trabalho vale a pena e faz diferença.


​Por: Edmara Galvão

Foto: Pedro Zuccolotto

Por trás da reciclagem

Adão Nunes Martins é um dentre os vários catadores do Brasil. Segundo dados da Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) de 2016, o Brasil tem mais de 300 mil catadores de material reciclável, o suficiente para lotar mais de sete estádios do Pacaembu.

Segundo o Compromisso Empresarial para Reciclagem (Cempre), toda essa massa de trabalhadores era responsável, no ano de 2012, pela coleta de 88% do lixo reciclável do país. Em 2016, esse número caiu para 29%. Hoje, as empresas privadas dominam a coleta enquanto apoiam ou mantém cooperativas de reciclagem.

Em uma  nação que produz quase 80 milhões de toneladas de lixo por dia, os catadores e cooperados executam um papel importante, embora invisível.

 

Confira abaixo no documentário Catadores a realidade dos que trabalham na cooperativa Reluz, em São Bernardo do Campo.

Por: Pedro Zuccolotto

Por trás da reciclagem
Daqui para frente

Daqui para frente

Com a perspectiva do aumento do impacto do plástico no meio ambiente - como a previsão de que até 2050, o volume do material nos oceanos vai ser maior do que o de peixes - medidas para tentar barrar esses danos se intensificam. Países como Bangladesh, Ruanda, França, Argentina, Chile, Itália e até China apresentaram leis que proíbem a circulação itens como sacolas plásticas, canudos, copos e talheres descartáveis. A União Europeia aprovou, em outubro de 2018, uma medida que bane a comercialização de artigos de uso único até 2021.​

Pesquisas na área também estão aumentando. Cientistas da USP conseguiram desenvolveram um tipo de plástico produzido a partir do lixo descartado pela indústria agrônoma. Uma empresa inglesa começou a fabricar copos de café a base de batata, amido de milho e celulose. Iniciativas na Holanda, Inglaterra e Brasil, estão produzindo estradas com asfalto feito de plásticos reciclados que chegam a ser cinco vezes mais resistente do que o tradicional. Em 2016, um grupo de pesquisadores achou, no Japão, um tipo de bactéria que consegue degradar o plástico. Saiba mais no gráfico abaixo.

Por: Igor Neves
Gráfico: Nila Maria

O que fazer agora

O que fazer agora

O futuro do plástico ainda é incerto. Cidades brasileiras, como Rio de Janeiro e Santos, já estão proibindo o uso do canudo plástico em bares e restaurantes, por exemplo, para diminuir o uso do plástico e para conscientizar a população em relação ao lixo produzido, que atinge principalmente os oceanos e a vida marinha. O professor de Ecologia Marinha da Universidade de São Paulo, Alexander Turra, especialista em impacto ambiental nos mares, explica que é necessário repensar sobre como usamos plástico. "Precisamos refletir que a responsabilidade é individual enquanto população, mas coletiva, porque dependemos de decisões governamentais".

Turra trabalha com lixo nos mares com duas frentes principais, identificando como a sujeira se distribui nas praias e oceanos e entendendo os impactos das micropartículas de plástico nos seres marinhos, como mudanças comportamentais, ou reações inflamatórias, por exemplo.

Alexander Turra

Plástico: Como você acredita que será o futuro do plástico nos próximos cinco anos?

Alexander Turra: A economia dos plásticos, desde  produção, até o descarte, estará mais claramente associada aos aspectos ambientais, já que é necessário pensar no objetivo daquele produto, como, por exemplo, se é uma embalagem para armazenar alimentos ou se é um copo descartável. O uso dos plásticos será pautado por análises de ciclo de vida dos produtos que permitirá à sociedade entender e escolher o que comprar. O futuro dos plásticos passará pelo redesign dos produtos, especialmente as embalagens, para facilitar e ampliar a reciclagem dentro da perspectiva da economia circular. Isso já acontece, mas deve se popularizar nos próximos anos.

 

P: O que é economia circular?

AT: A economia circular nada mais é do que pensar em um produto de forma que ele possa ser reutilizado e transformado em algo novo. Esse tipo de lógica se contrapõe ao que é feito atualmente, definido como economia linear, que usa dos recursos para fazer um produto, e que, depois de usado, o resíduo será destinado ao aterro sanitário.  Ao adotar uma economia circular, nós poupamos recursos naturais e impactamos menos nos aterros sanitários, eventualmente gerando menos lixo que será perdido nas ruas, nas estradas, e que vão acabar nos rios e depois nos mares.

​P: Em 10 anos, qual será o impacto do plástico já presente nos oceanos, mesmo que todo o descarte mundial irregular acabe?

AT: Os itens plásticos que já estão lá tendem a ficar por muito tempo, sendo fragmentados em partículas cada vez menores, os chamados microplásticos. Essas partículas podem ser ingeridas por uma gama maior de animais marinhos. Além de causar uma falsa sensação de saciedade, porque eles não sentem que estão com fome e definham por inanição, os microplásticos podem ampliar a exposição desses organismos aos outros poluentes que a eles se absorvem, como derivados de petróleo ou metais pesados, levando a reações alérgicas, mudanças comportamentais e até mesmo a morte. Nós precisamos cuidar dos oceanos e da vida marinha porque eles são muito importantes para nós. Muita gente não sabe, mas os oceanos têm papel fundamental na regulação do clima, por exemplo. Existe um termo chamado educação oceânica (do inglês ocean literacy), que consiste em fazer com que a sociedade tenha um maior entendimento sobre a importância dos mares e oceanos na vida delas, mesmo aquelas que moram longe da praia.


P: Existem alternativas ao plástico? Elas são viáveis economicamente?

AT: O plástico é um material espetacular que precisa ser usado com sabedoria e não descartado de qualquer jeito. Existe uma coisa chamada análise de ciclo de vida, em que se leva em consideração o ciclo total de um produto, e não só alguns aspectos, para saber qual o melhor material para produzí-lo. Alternativas para o plástico existem, como os plásticos biodegradáveis e o oxibiodegradáveis, que são compostáveis. A escolha entre eles depende, no entanto, da utilidade final. Por exemplo, garrafas podem ser de vidro, mas numa análise de ciclo de vida, talvez seja constatado que elas geram mais emissões de carbono por aumentar o gasto de combustível, já que pesam mais. Os plásticos biodegradáveis, feitos de mandioca, por exemplo, têm uma possibilidade de uso que não dá pra ser aplicada em todos os tipos de itens feitos de plástico. Uma rede de pesca, por exemplo, precisa de um material resistente para que dure mais.

P: Quais medidas podemos tomar hoje para diminuir o uso do plástico no nosso cotidiano?

AT: Temos que consumir de forma consciente, além de lembrar da regrinha dos três R‘s - reduzir, repensar, reutilizar. Mas o plástico não é ruim por definição. Depende da relação que estabelecemos com ele. Além do consumo consciente, temos que promover o descarte adequado, privilegiando a economia circular. É necessário pressionar os governos e as empresas para caminhar nesse sentido, produzindo soluções eficazes e duradouras.

Por: Edmara Galvão

Foto: Marcos Santos / USP Imagens

Foto: Pedro Zuccolotto

Quem somos nós

Quem somos nós

Alunos de jornalismo da turma de 2016 da Universidade Metodista de São Paulo que batalham por um mundo com menos plástico.

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Danielly Fernandes

Como o plástico, quer chegar a todos os lugares do mundo.

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Igor Neves

Agora tem medo que

até ele seja feito de plástico.

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Nila Maria

A menina que agora recusa

o copo e o canudo.

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Edmara Galvão

Queria viver tanto tempo

quanto uma garrafa PET.

19 - 15 de novembro de 2017 - [000300].j

Juliane Assis

Ama as tartaruguinhas

e vai protegê-las.

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Pedro Zuccolotto

Acha a raiva sobre os canudos uma completa histeria. 

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Vinícius Pazini

O plástico vive mais que você.

Já parou para pensar nisso?

Trabalho realizado no sexto semestre no ano de 2018.

Orientação por Alexandra Gonsalez, Eduardo Grossi,

Eloiza Frederico, Heidy Vargas e Maurício Gasparotto.

© Protegido por direitos autorais
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